Covid-19

Principais impactos da Covid-19 na cadeia de suprimentos

30 de julho de 2020

O primeiro quadrimestre de 2020 foi marcado por um impacto econômico que exigiu mudanças globais em muitos setores e áreas, em virtude da pandemia da Covid-19. A fragilidade do sistema de saúde pública e privada no mundo ficou exposta e sua inter-relação com a economia mostrou a força e necessidade de investimento na área científica de saúde como um todo.

Na cadeia de suprimentos os impactos mais significativos da pandemia, no primeiro quadrimestre do ano, se deram segundo Alexandre Menezio, fundador e diretor operacional de compras da empresa Aliança SCA, nos segmentos de fertilizantes e agroquímicos. “Considero isso principalmente porque neste período houve uma grande incerteza quanto à manutenção do abastecimento de insumos, uma vez que parte relevante dos produtos é importada, e poderia haver interrupção nas operações portuárias; além do fato de que a China é uma origem muito importante de suprimentos.”

O cenário de dúvidas e incertezas acelerou as negociações para contratação por períodos mais longos e também obrigou várias empresas do segmento agroindustrial (sucroenergético) a formarem estoques para se proteger de rupturas nas entregas. Além disso, houve impacto relevante nos preços dos produtos, dada a volatilidade nas cotações do petróleo e da taxa de câmbio.

Menezio analisa que alguns segmentos passaram ilesos pela pandemia, como o de combustíveis, que apesar de ter tido volatilidade na cotação do petróleo, conseguiu manter a eficiência logística, enquanto enfrentava forte queda na demanda, equilibrando assim, a economia do setor. Outros segmentos, como o de pneus, chegaram a apresentar interrupções temporárias no abastecimento, porém já restabeleceram as entregas.

O que o cenário da pandemia mudou na cadeia de suprimentos

De acordo com o diretor operacional de compras da Aliança SCA, o cenário exigiu uma maior proximidade com fornecedores e multiplicou as discussões sobre a capacidade das companhias fabricantes em manter o abastecimento e, em um próximo movimento, diminuir a dependência da China como principal país supridor.

Quanto ao fluxo de caixa, ainda segundo Alexandre Menezio, as discussões passaram a abranger a possibilidade de estender prazos de pagamento e, em casos específicos, a realização de barter¹.

Do ponto de vista operacional e administrativo foram necessárias mudanças para se adaptar ao novo cenário e enfrentar uma crise sem precedente. “As áreas operacionais, industriais e agrícolas se adaptaram rapidamente às exigências de distanciamento e de provisão dos recursos necessários à proteção dos trabalhadores, como acesso a máscaras e álcool em gel, etc. Trabalhadores dos grupos de risco foram rapidamente identificados e afastados, sem prejuízo do salário, e um esforço massivo de comunicação e educação passou a fazer parte da rotina de gestores e equipes de saúde e segurança do trabalho. – comentou Alexandre.

Além disso, as áreas administrativas aderiram ao trabalho remoto e muitos diretores de tecnologia puderam priorizar investimentos em comunicação, de forma que a adequação se deu de maneira quase que instantânea.

O que os gestores estão fazendo para lidar com as incertezas que o cenário apresenta?

A incerteza tem estimulado a aprovação de maiores quantidades de compra, resultando em estoques mais elevados do que seria normal e impactando os custos de fabricação.

Como forma de trazer mais previsibilidade aos preços, as áreas de inteligência de mercado deverão ser reforçadas, assim como os esforços de gestão de fornecedores e acesso corporativo. Está havendo ainda um esforço de negociação de contratos com preços parametrizados, no caso de produtos importados, de forma a permitir que se capture reduções de preços em Reais.

Ações e medidas para o pós-pandemia

Pensando no pós-pandemia é bastante razoável acreditar que ações e medidas devam permanecer com o intuito de mitigar riscos futuros e na adaptação das empresas ao trabalho remoto para equipes administrativas, pois reduzem custos com locações e mobilidade e consequentemente permitem que se destinem recursos para investimento em outras áreas.

Outra medida é a redução no número de reuniões presenciais, na participação de eventos e na quantidade de viagens corporativas.

Com o tempo, as empresas tendem a perceber um aumento na eficiência e produtividade dos trabalhadores administrativos, desde que sejam capazes de manter a inovação, monitorar indicadores relevantes de desempenho, manter a prática da cultura corporativa, e continuar treinando, desenvolvendo e avaliando pessoas.

A análise de riscos vinculada à gestão adequada com mapeamento de fornecedores demonstrou ser fundamental e então, novamente as áreas de inteligência de mercado e gestão de fornecedores tem papel relevante na identificação dos que são capazes de manter a continuidade das operações mesmo em momentos de crise. “Aqueles fornecedores que demonstrarem ter desenvolvido cadeias de suprimento mais robustas e maduras, serão identificados e terão prioridade no relacionamento e na renovação de contratos. Deverá haver ainda uma seleção de negócios maiores, centralizados em menos fornecedores, mais eficientes, confiáveis e financeiramente saudáveis.” – finaliza o fundador da Aliança SCA.

(1) barter: o termo Barter, derivado do inglês, significa “troca” e consiste em trocas para melhorar a relação comercial entre empresas. A aplicação do Barter neste contexto do agronegócio é a realização do pagamento de insumos com os grãos produzidos ou com produtos finais, como o açúcar e o etanol. É um mecanismo financeiro que possibilita ao produtor acesso a insumos sem impactar o fluxo de caixa, e que, num cenário de baixa liquidez, passa a ser uma ferramenta oportuna.

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